O sonho de M. é ser químico: "Aqui, o que não falta é tempo. Então, a gente estuda"é
Revisar fórmulas, fixar conceitos, tirar a última dúvida sobre aquela teoria complicada são as preocupações atuais de 23.665 inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), edição 2012, que será aplicado amanhã e quarta-feira. Para esses candidatos, a prova que dá acesso a algumas das melhores universidades do país, aplicada a 4,1 milhões de estudantes em novembro, representa bem mais que a chance de ingresso no ensino superior. Pode significar o estímulo que faltava para uma verdadeira guinada na vida de adolescentes e adultos privados de liberdade por terem cometido infrações e crimes. A edição especial do teste levará a presídios e unidades socioeducativas de 26 estados e do Distrito Federal, esta semana, algo pouco comum naqueles espaços: esperança.
Para os brasileiros privados de liberdade, é preciso ter mais de 18 anos e conseguir as notas mínimas exigidas no edital, que variam entre 400 e 500 pontos nas provas de conhecimento e de redação para obter o canudo através do Enem. Por esse motivo, a pedagoga Gabriela Rodrigues, chefe do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Planaltina, fez a inscrição de todos os internos maiores de idade. Geralmente, são meninos que entraram no estabelecimento antes de completar 18 anos. Ela não tem certeza, entretanto, quantos farão o teste. “Jovem, de uma forma geral, é muito instável. Ora ele quer fazer o Enem, daqui a pouco resolve que não quer. Só no dia saberemos”.
Apesar do risco de abstenção elevada, o número de inscrições este ano superou em 69% o de 2011. Ano passado, foram 13.962. Um dos candidatos do Enem 2012 é M, o mais velho e único homem de cinco irmãos. O rapaz de 20 anos se prepara para a prova tanto durante as aulas, na escola que fica dentro da unidade, quanto nas horas livres. Embora a rotina seja pontuada por horários rígidos, é permitido levar os livros para a cela onde dorme. O sonho do garoto internado por roubo é se tornar químico.
Internado há um ano e três meses, M. chegou a fazer o Enem quando estava no primeiro ano do ensino médio, antes do episódio que o levou à internação. Na empreitada atual, acredita que tem mais chances de conseguir a aprovação. “Aqui, o que não falta para a gente é tempo”. Então, a gente tenta estudar mesmo para tentar sair melhor”, diz M..
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