segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

SCJ na Mídia - Diario de Pernambuco

A história de Lily

Marcionila Teixeira marcionilateixeira.pe@dabr.com.br

Recife, domingo, 1º de janeiro de 2012

Aos 41 anos, Suely Davis Purcell voltou ao Recife para conhecer a Casa de Carolina, onde foi adotada
            

Na quarta-feira passada, ela esteve na Casa da Madalena, instituição que substituiu a antiga Casa de Carolina. Imagem: LAIS TELLES/ESP DP/D.A PRESS


Nos olhos estava o segredo do início daquela relação duradoura. Eles eram claros, brilhantes. Conquistavam. Assim começou a história de amor entre um casal e sua filha, um bebê que vivia na Casa de Carolina. Na época, há 41 anos, o abrigo funcionava em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Na última semana, o bebê do passado, hoje uma mulher chamada Suely Davis Purcell, voltou ao Recife. O abrigo já não estava mais no mesmo lugar. Foi transferido para a Madalena e chama-se Casa da Madalena. Suely, ou Lily, como gostam de chamá-la, chorou ao ver os bebês dormindo na unidade de acolhimento. Lembrou da própria história.
Lily fala pouco o português. Desde que foi adotada pelos pais norte-americanos, nunca havia voltado ao Recife. Ela conta que aos 17 anos pensou em conhecer os pais biológicos, mas o desejo ficou apenas nos pensamentos. Não chegou nem a comentar com os pais adotivos. “Era uma curiosidade, apenas”, afirmou. Ela não diz com todas as letras, mas a visita ao abrigo é uma espécie de volta ao passado, de busca das origens. Hoje, casada, mãe de três filhos de 11, 13 e 14 anos, ela mora na Virgínia, nos Estados Unidos, e afirma que é feliz.

O início

Muito sorridente, o casal Harlan Davis, 71, e Jean Davis, conta como conheceu a filha. “Eu era vice-cônsul e sempre tivemos a vontade de adotar uma criança do Nordeste. Achava uma região muito pobre. Visitamos a Febem. Ela ainda existe hoje?”, questiona Harlan, sem saber muitos detalhes das casas de acolhimento onde vivem as crianças em processo de destituição do poder familiar ou de volta à família biológica. “Tivemos dois encontros com o bebê de olhos verdes, lindos, de apenas oito semanas. Era uma boneca. É difícil explicar, mas nos apaixonamos”, lembra o pai.

Um mistério

A única história do passado daquele bebê é que ele havia sido deixado na frente de uma igreja. Ninguém sabe qual. Ninguém sabe por quem. “No abrigo ela já tinha o nome Suely. Gostamos e decidimos chamá-la assim”, contou a mãe, Jean. Sem querer falar muito no assunto, o casal diz que seria muito difícil chegar aos pais biológicos do bebê. “Hoje tenho recursos financeiros para encontrá-los, mas não quero mais”, diz Lily. Durante a entrevista, ela chora muitas vezes. Conta que está emocionada pela volta à cidade de origem e com a possibilidade da visita às crianças.

A doação

Há cerca de três anos, Lily fez uma doação de cinco mil dólares para o Rotary Boa Viagem ajudar a Casa de Carolina. Na época, foram comprados lençóis, toalhas, máquina de lavar industrial, refrigerador, entre outros objetos. Nesta época ela já planejava sua viagem ao Recife. Preparou o espírito até que um dia aportou na capital pernambucana. “Quero mostrar às crianças do abrigo que elas também podem ser felizes como eu sou. Quero que elas vejam meu exemplo. Que podem ter uma família, construir sua própria história. Eu consegui essa vitória”, diz.

O abrigo

A Casa da Madalena funciona há seis anos e abriga atualmente 26 crianças, entre elas apenas cinco meninas. A mais nova tem poucos meses de vida e a mais velha tem 11 anos. Todas estão em processo de destituição do poder familiar ou de volta para a família biológica. “O maior desejo das crianças que vêm para cá é ter uma família. Achei o lugar muito agradável, não lembra uma indústria, com muitas crianças acumuladas”, diz Lily. Para Lily, o momento mais emocionante da visita foi a cena dos bebês dormindo nos berços. “Fiquei emocionada porque foi com essa idade que fui adotada”, revela.

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